domingo, março 18, 2012

Reciclagem de lixo fica mais fácil em São Paulo


Coleta seletiva é ampliada; especialistas mostram o que é reciclável
Renato Stockler/Folha Imagem






A educadora Regina Siqueira da Silva separa o lixo no quintal

GIOVANNY GEROLLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Acostumada a ser vista como o fim da vida útil de embalagens e de objetos da casa, a lata de lixo vira o ponto de partida para resolver um dos maiores problemas de uma metrópole: o excesso de coisas que o paulistano joga fora.
São 15 mil toneladas diárias, das quais apenas 12% são recicladas, quantia que pode chegar a até 30%, segundo especialistas.
Para melhorar o desempenho, a prefeitura ampliou a coleta seletiva. "Aumentamos de 52 para 66 o total de distritos onde opera o programa. Em alguns, recolhe-se o reciclável duas, três vezes por semana", diz a secretária-adjunta da Secretaria de Serviços, Fernanda Bandeira de Mello, 46.
Em setembro de 2005, foram recicladas 1.850 toneladas de lixo, contra 900 do mesmo mês de 2004. A meta do Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) é chegar a 9.350 toneladas/mês até o final de 2006.
Tudo no mesmo saco
Ao contrário do que muitos pensam, não é preciso ter quatro latas para separar o reciclável. Nos bairros atendidos pela coleta seletiva e onde há recipientes verdes na rua, todo o lixo pode ser jogado no mesmo saco, desde que o material esteja limpo. O que pode ser reaproveitado (metais, plásticos, papéis ou vidros) é separado nos pontos de triagem.
Muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o que pode ir para o lixo reaproveitável. Embalagens de bolacha, filme plástico e esponjas de aço, por exemplo, não são recicláveis e devem ser descartados com o lixo comum.
Diminuição do consumo deve ser o primeiro passo
A ampliação da coleta de recicláveis é vista por especialistas como bom começo. Para melhorar, é preciso se comunicar mais eficientemente com a população.
"O importante é desenvolver a crítica quanto aos hábitos de consumo, ensinar a preferir o copo de vidro ao de plástico, já que pode ser usado muitas vezes antes de ser reciclado", avalia a bióloga e consultora Patrícia Blauth, 43, da Menos-Lixo Projetos e Educação em Resíduos Sólidos.
Para a Menos-Lixo, não basta disponibilizar cestos coloridos, pois a população desconhece a diferença entre papel, papel metalizado e diferentes tipos de plástico. Embalagem suja e palito de sorvete contaminado não serão reciclados.
O engenheiro e diretor técnico da ONG Universidade da Água, Carlos Eduardo Porto Palma de Souza, 53, concorda quanto à necessidade de educar e acha que a reciclagem total é quase utópica, do ponto de vista técnico, consideradas a área da cidade, sua população e quantidade de resíduos.
"Também seriam necessários sistemas de triagem com recicladoras e comercialização regionalizados para que o sistema fosse economicamente viável." (GG)
Materiais "híbridos" dificultam triagem
Mistura de componentes e aditivos impedem reaproveitamento de embalagens de biscoitos e de doces, por exemplo
Com alguns materiais, nem o mais bem disposto reciclador doméstico escapa de um dilema comum diante da lata de lixo: jogar ou não no saco de recicláveis?
"É complicado. Há vários tipos de papel, plástico e vidro, nem todos recicláveis", comenta Carlos Eduardo Porto Palma de Souza, da Universidade da Água.
Um dos maiores empecilhos é a mistura de aditivos com os materiais, que dificilmente é desmanchada. É o que acontece com papel-carbono, fita adesiva e papel metalizado ou plastificado.
Por isso não adianta separar pacotes de bolachas ou de doces. "Os chamados termofixos [materiais estáveis em altas temperaturas, que são difíceis de reciclar] estão fadados a permanecerem no ambiente por muito tempo", alerta a bióloga Patrícia Blauth, da Menos-Lixo Projetos e Educação em Resíduos Sólidos.
A educadora Regina Siqueira da Silva, 40, ensina a facilitar o descarte já na hora da compra. "Procuro embalagens recicláveis ou que não sejam compostas de mistura de materiais", conta. As embalagens longa vida também geram dúvidas. São recicláveis e, em contêineres, descartadas no espaço para papéis.
Lixo limpo
Outro passo fundamental é limpar os recicláveis. Qualquer material sujo ou contaminado deve ser descartado da seleção. A mesma regra vale para o papel toalha e o higiênico: só serão reaproveitados se estiverem intactos.
Para ajudar a tirar dúvidas sobre as melhores maneiras de separar o lixo reciclável, Fernanda Bandeira de Mello, secretária-adjunta da Secretaria de Serviços da prefeitura, comenta que aposta em campanhas publicitárias sobre a coleta seletiva.
"A panfletagem é um método efetivo e tem sido aplicada principalmente em áreas verticalizadas ou de condomínios, onde atingem-se um maior número de cidadãos por operação", explica.
(GIOVANNY GEROLLA)


 Quanto e o que se recicla no Brasil e no mundo
Papel
O consumo anual (por habitante) de papel no Brasil manteve-se estável em 1998, situando-se em 38,4 quilos, ainda distante dos níveis observados em países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos (336,5 kg por habitante). No entanto, estima-se que 35% do papel produzido no país nos últimos dez anos são originados de matéria-prima reciclada. Nos Estados Unidos, esse número é de 27,6%, caindo para 10,8% no Canadá.
Plástico
O consumo anual de plásticos no Brasil gira em torno de 19 quilos. O volume é relativamente baixo se comparado aos índices de outros países, como Estados Unidos (100 kg/hab) e a média na Europa (80 kg/hab.). No campo da reciclagem, 15% dos plásticos rígidos e filme retornam à produção brasileira como matéria-prima, o que equivale a 200 mil t/ano. Nos Estados Unidos, este número é quase cinco vezes maior.
Vidros
A indústria brasileira produz 800 mil t/ano de vidros para embalagens, das quais 35% são recicladas, somando 280 mil toneladas por ano. Os Estados Unidos produziram 11 milhões de toneladas em 1997, das quais reciclaram 37%, correspondendo a 4,4 milhões de toneladas. Índices de reciclagem de vidro em outros países: Alemanha (74,8%), Reino Unido (27,5%), Suíça (83,9%) e Áustria (75,5%).
Latas de alumínio e aço
Em 1998, o Brasil atingiu o recorde nacional de reciclagem. Foram mais de 5,5 bilhões de latas recuperadas pela indústria, o que significa uma taxa de 65% sobre o total de latas de alumínios vendidas (8,5 bilhões de unidades). Os números brasileiros superam países industrializados, como Inglaterra (23%) e Itália (41%). Os Estados Unidos recuperam 66%, o que equivale a 64 bilhões de latas por ano. O Japão recicla 73%. Quanto às latas de aço, 35% das latas consumidas no Brasil são recicladas, o que equivale a cerca de 250 mil t/ano. Nos Estados Unidos, 60% das embalagens de folha de flandres retornaram à produção de aço em 1987. Se o Brasil reciclasse todas as latas de aço que consome atualmente, seria possível evitar a retirada de 900 mil toneladas de minério de ferro por ano.
Prof. Julio Cesar C. Leitão - Coordenador
www.clubedaarvore.com.br - prof.juliocesar@clubedaarvore.com.br

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