terça-feira, abril 17, 2012

Clima intenso pode ser o “novo normal”


Intensificação de eventos climáticos acima do que era antes considerado “normal” está criando um “novo normal”, com eventos mais intensos, mais dias e noites quentes e menos dias e noites frias.

 
Por Sérgio Abranches, PhD, sociólogo, cientista político é analista político. Escreve sobre Ecopolítica. É comentarista da rádio CBN, onde mantém o boletim diário Ecopolítica, colaborador permanente do blog The Great Energy Challenge, uma parceria entre o Planet Forward e a National Geographic. Autor de Copenhague: Antes e Depois, Civilização Brasileira, 2010, sobre a política global do clima. Prêmio Jornalistas&Cia HSBC de Imprensa e Sustentabilidade: Personalidade do Ano em Sustentabilidade 2011.
Fonte: Ecopolítica

No Brasil, já há pesquisa mostrando que a concentração de chuvas intensas se tornou o “novo normal”, em todas as regiões, embora o volume total de precipitação anual tenha permanecido o mesmo. O ano de 2012 pode vir a ser o oitavo ano consecutivo em que eventos climáticos extremos afetam a produção agrícola. Seca afetou a produção de grãos na Argentina, no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do sul. Excesso de chuva afetou a produtividade agrícola em Mato Grosso e Goiás, em extensas regiões produtoras de arroz na Ásia. Na Austrália as enchentes voltaram a castigar a população e afetar a produção. Na África seca em algumas regiões e enchentes, em outras, reduzem a oferta de alimentos. Na Rússia, a produção de trigo está sendo afetada por um invernos rigoroso demais, com excesso de neve. Já em Illinois e Iowa, no EUA, que respondem por quase 40% da produção de milho do país, um inverno muito quente e com pouca neve pode prejudicar a safra da primavera, por causa da insuficiente umidade dos solos.
Esses eventos, por quase uma década já, mostram uma forte correlação entre mudança climática e segurança alimentar global. Os preços agrícolas são elevados pela redução da oferta, que por sua vez é insuficiente para atender à demanda. Como a produção se distribui desigualmente, os mercados mais ricos absorvem a maior parte da oferta e as regiões mais pobres sofrem mais. Aumentam a pobreza e a fome.
Já é hora dos governos e produtores se darem conta de que precisam levar em conta em suas políticas e investimentos esse “novo normal”. A adaptação às condições determinadas pela mudança climática é um imperativo para a segurança alimentar global e para o futuro do agronegócio. A visão de curto prazo dominante no Brasil, por exemplo, que faz os produtores resistirem a recuperar matas ciliares, manter cobertura vegetal e a querer desmatar mais para avançar a produção pode ser fatal para o agronegócio, para nossas exportações de commodities a longo prazo, e muito prejudicial para a segurança alimentar do país.
Meu comentário na CBN está aqui.


Postado por Daniela Kussama

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